Abelardo da Hora, artista pernambucano, criador de múltiplas linguagens centradas na cultura popular pernambucana. Foi escultor nacional e internacionalmente reconhecido, pintor, gravurista, poeta, professor de artes plásticas e militante de esquerda. Foi um dos integrantes do MCP- Movimento de Cultura Popular e suas obras, grande parte hoje expostas em praças, prédios públicos da idade do Recife – tem como eixo estético, social e político: as mulheres, as desigualdades sociais, a cultura popular e as crianças empobrecidas das periferias do Recife. Sua obra pode ser sintetizada, a partir de suas próprias palavras:
“O amor eu dedico ás mulheres, por que sem a mulher não existiria nada. E a solidariedade eu dedico ao povo. Hora exaltando a criatividade popular, hora lutando de braços dados com o povo contra as injustiças sociais” (Abelardo da Hora)
Abelardo da Hora, morreu em 2014, logo após o lançamento e projeção do curta metragem “Da Hora” e seus meninos do Recife, mesmo com a sua presença em 2014: a saber: Academia Pernambucana de Letras, Câmara dos vereadores de Olinda, Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco e no Congresso Internacional de Arte e Educação (Recife/2014). Meu último contato com ele foi ainda nessa temporada em seu aniversário, onde foi realizada uma "Alvorada" para despertá-lo e parabenizá-lo. Lá estavam pintores, escultores, músicos, poetas e integrantes da "Comissão da Verdade". O contato foi emocionante e ele estaca totalmente lúcido, alegre e muito espirituoso. Lembro-me bem que ao ouvir a sua música preferida "Jesus Alegria dos Homens" - ele suspirou dizendo “essa música é arretada”!
As gravuras tem enorme importância, uma vez que o quadro de desigualdades sociais, expressada, sobretudo, pela situação deplorável das crianças e suas famílias, continua hoje atual se formos aos bairros ribeirinhos do centro da cidade e nas periferias (nas palafitas e "mocambos"), onde as crianças brincam nas águas podres dos mangues , no rio Capibaribe e nos canais de puro esgoto “a céu aberto”. Quem anda pela cidade, pode ver esse quadro grotesco e revoltante, ou seja, crianças e suas famílias vivendo em situação degradável e insalubre na mais pura situação de miséria absoluta. Isso os mostra que pouca coisa mudou e que a obra do Abelardo "Meninos do Recife" é seminal para entender o processo de exploração e divisão de classes sociais. A obra se constitui num libero para se repensar as políticas públicas e sociais e, fundamentalmente, a situação das crianças no solo urbano, cuja vida cotidiana tem origens pré-capitalistas na escravidão e se estende com vigor lúgubre do capitalismo neoliberal. As gravuras do Abelardo da Hora, nos mostra que a vida dessas crianças- uma "vida de gado" e, portanto, marcada por uma história de "ferro, brasa e privação".